'Minha tia Valda, uma robusta senhora de 68 años, gostou de uma camisa pólo que viu na vitrine de uma loja de artigos masculinos. Entrou e pediu para experimentar. -Infelizmente não temos o seu tamanho nessa cor –respondeu o vendedor, solíto.
Não sei se é uma maldição que persegue nossa familia, mas nunca conseguimos os artigos que nos atraem nas vitrines. Não tem a cor ou não tem o modelo ou não tem o tamanho. Uma ocasião, apaixonei-me por um sapato que vi numa vitrine em Cpacaban. O vendedor fez-me sentar e apareceu com outro modelo (achando que ia me levar na conversa).
-Quero aquele da vitrine!
-Infelizmente –disse ele-, aquele nós só temos um pé!
É ou não é uma maldição? Acontece de tudo para frustrar os desejos de consumo da nossa familia. É inacreditável, um sapato na vitrine sem seu par.Levantei-me e reagi, carregando de indignação:
-O que houve com o outri pé? Venderam para o Saci?
Tia Valda mal iniciou a ação de bater em retirada, e o vendedor logo despejou um monte de camisas á sua frente.
Temos essa verde... essa lilás... essa que chegou agora, cor telha, é a última novidade- foi dizendo o vendedor, abrindo as camisas diante de titia. – A senhora deve ficar muito bem de lilás. Tia Valda preferiu a preta. Pegou a camisa e viu a letra P na etiqueta. Perguntou se não tinha M. Não tinha, mas para não perder a comissão, o vnededor preferiu dizer que P era tamnho da titia. Qualquer vesgo verificaria que tia Valda, com seu corpo de halterofilista búlgara, não caberia dentro daquela camisa. O vendedor, porém, veio com a conversa de que o fabricante fazia números maiores e coisa e tal. Titia acreditou e se enfiou no cubiculo de experimentar roupas, que só não se confunde com uma solitária porque há uma cortina no lugar das grades. Vestiu a camisa, constatou que o P significava P mesmo; e, no momento de retirá-la, ela ficou presa no meio do caminho, cobrindo a cabeça de tita. Tia Valda ainda insistiu debatendo-se entre as paredes do cobículo, mas a camisa encalhara como um navio num banco do cubículo, mas a camisa encalhara como um navio num banco de areia. Braços erguidos, rosto coberto, tita começou a sentir calor, falta de ar e foi entrando em pánico. Para não sair da cabine ás cegas feito um boi.bumbá, resolveu gritar. Mas gritar o qué? Nunca tinha estado numa situacão dessas. O que gritar quando se luta desesperadamente com uma camisa? Sem se lembrar de nada em especial, encheu os pulmões e berrou:
-Socorro! Socorro!
Era de ver: a loja inteira se despençou na direção da cabine, vendedores, fregueses, até a moça do caixa foi atrás. Não se podia pensar num assalto: não cabem duas pessoas nessas cabines. Talvez uma barata. O vendedor que a atendia puxou a cortina e surgiu ta Valda, braços levantados, cabeça coberta, rodopiando feito uma vaca brava.
- Momentinho – pediu o vendedor-, fique calma que nós vamos ajudá-la.
Ele tentou puxar a camisa, mas a essa altura tua Valda tinha o corpo empapado de suor e a camisa resistia mais do que um burro empacado.
- Eu puxo aqui e você puxa dai – disse para o gerente. Os dois se esforçavam, mas a cada puxão a velha ia junto com a camisa.
-Alguém ai, por favor, segure a madame –pediu o vendedor, recobrendo de pronto a colaboraçao de vários voluntários. Tia Valda bufava no meio daquele sufoco e estava vendo a hora que iriam lhe arrebentar o sutiã. Na sua idade já não se sentia á vontade para fazer um topless numa lojade artigos masculinos.
-Por que não cortam essa camisa?- perguntou alguém do grupo de voluntários que seguia cambaleando pela loja, empencado em Tia Valda.
-Não precisa cortar, nós vamos dar um jeitinho – disse o vendedor, que já suava mais que titia e não queria pagar a camisa.
A essa altura, já havia uma multidão á porta da loja assitindo á cena. Muita gente não entendia o que se passava, ao ver um grupo de homens agarrados a uma senhora de braços erguidos, entalada por uma camisa. Uma velinha, na porta, imaginou, com toda razão, que o grupo estava querendo despir tia Valda para violentá-la na loja, e resmungou:
-Esses vendedores são uns tarados!
A confusão aumentava. Tia Valda, camisa grudada no corpo, pedia que chamassen o Corpo de Bombeiros. Alguém sugeriu que sentassem titia.
-Amarrem essa velha numa cadeira!
Depois de muito esforço, a camisa acabou sendo rasgada, para alivio de tia Valda, que arfava como se tivesse passando todo esse tempo debaixo d´água. Ela agradeceu os aplausos e voltou á cabine para se recompor. No momento em que abotoava a blusa, viu um braço varando a cortina do cubículo. Era o vendedor, entregando-lhe uma camisa dizendo:
-A senhora não gostaria de experimentar este outro modelo?'